segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Morte Secreta

No centro da praça em ruínas,
tímidas freirinhas sem vocação empurram o tempo e outros substantivos menores.
Distribuem o minuto, o orgulho, o ódio e a doença.
Sem poesia
é impossível conjugar o verbo amar.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sondagem

Um menino caminha taciturno pelas esquinas.
Quer tocar no amor e em outros tecidos pavorosos.
Mas já não pode.
Os homens e o vapor dos seus hálitos desmoralizam as palavras.
Impossível remexer na dor, na carne, na vida.
Um deles, por trás da barba, joga uma moeda.
Eu sentencio:
Salva-te da fome e de outras sugestões alimentícias.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Interpoesia

Que estranha máquina é essa que o poeta se negou de ver num relance?
Por certo não havia igual em Itabira.
Itabira só tinha pernas, pedras, família, infância, amores, palavras, o poeta e talvez a rosa.
A náusea veio depois,
o tédio, os vestidos e os maquinismos.
Gauche, perturbou-se, mas não podia.
Não era José, não era Raimundo nem mesmo J. Pinto Fernandes.
Era sim triste, orgulhoso, caduco de amor na velhice morna. 
Sem Deus, sem mundo, sem ternura, sem ácidos.
Se não é mais possível fazer versos, meu amigo,
ao menos toma com virtude o teu conhaque. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Préstimos

Teu ser restrito, noturno e miserável
Renunciando bens, desejos menores e caprichos do ofício.
A barba que cresce empunhando o tempo e os sonhos.
Um gole quente
de batom, de álcool, de fumaça, de perdão.
A triste pressa das coisas
a contemplar a marcha telepática
das viúvas lembranças,
agora órfãs de todas as palavras.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Peregrinação

Num embate melancólico
de substâncias e estandartes,
desolado,
O pó vai perdendo a força: 
do cimento,
da argila,
do ar,
do esquecimento.